Friday, November 16, 2007

Ela é? (interrogação angariada)

"In every corner of my memory
There's no place you wouldn't be
lf anything, I wish I had
Another dream with you
Life was forever yesterday
Nothing in the world could take
Your love away, will I ever know
That time will ease the pain
For me someday"

(Scorpions - She Said)

"Fazia tudo de um modo metódico e parcimonioso, como se não houvesse nada que não estivesse previsto para ela desde seu nascimento."

(Gabriel García Márquez - O avião da bela adormecida )



Era quase meio-dia de sábado. Afonso Pena, Bahia, Augusto de Lima viraram corredores de hotel, cada prédio um quarto, cada porta uma promessa. O Maleta estava no seu louvor matinal, como se Hilda Furacão estivesse a momentos de chegar, na sua brancura felina e enigmática, saltando do livro e acalmando os ânimos: a rainha de volta ao seu castelo. Os mineiros se amontoavam, como formiga em volta dos doces, nas várias esquinas dos vários bairros avulsos de Belô e ninguém, se perguntado, saberia dizer o que faria ali, naqueles botecos boêmios de décadas, mal arejados e quase sempre escuros, com azulejos de decoração antiga, memórias de um tempo que nós, mineiros, temos o pavor de esquecer; amarelados e azulados quadradinhos brancos com desenhos florais colados nas paredes mofadas, esbranquiçados quase sempre pelo uso desses ácidos capazes de limpar a sujeira deixada pelas pessoas ali, um sujo humano demais encardido e infiltrado nas construções. Alguns quadros e fotografias pregadas em murais mofados e imundos por aquele vuco-vuco natural de quem tem sempre pressa nesses incontroláveis incentros urbanos, aquele vapor suado que exala do corpo cansado e perdido, como éteres de uma alma abandonada e passivamente sozinha. Mas, BH estava como sempre, senhora das melodias, de papo na janela com a Serra do Curral: violeiros que volatilizavam as vozes dos violões velados num bar de esquina, as palavras cantadas do sotaque sinfônico, o vento macio que aterrisava nas ruas, refrescando o calor da manhã quando vira tarde. Rodrigo e Daniel vinham comigo, caminhavam à frente, rebolando quando não havia mais ninguém para notar-lhes os traços de drag-enrustida-ansiosa-pelas-baladinhas-GLS e conversavam dando gargalhadas convulsionadas. Sem se entreolharem, sabiam exatamente para onde - e quem - olhar e o comentário seguinte era divido com muito louvor ou muita degradação e eles sempre preferiam quando podiam degradar o mundo todo, pois se sentiam terrivelmente degradados por essa cidade claustrofobicamente gay. Eu, mais atrás, rodava as listas dos telefones do meu celular, caminhando mais devagar, com meu salto plataforma-herança-da-convivência-com-dois-gays-altamente-cítricos-&-críticos, com apreço pela quantidade de figuras esquecidas e risos de canto de lábio pelas qualidades duvidosas das mesmas. No visor: Alexandre - aquela bicha oca, Ana Laura - aqueles olhos cansados de quem acabou de trepar seguidas-horas-seguidas, Aniele, Amanda – àquela que quase sempre ligava aos finais-de-semana, quando não havia mais ninguém avaiable na noite e ela precisava canalizar o impulso sexual freado durante a semana inteira no seu mundinho quadrado e hétero de secretária de escritório de advocacia (desses que ocupam o prédio inteiro e colocam os nomes dos doutores com letras maiores do que as portas), Beatriz – telefone discado só uma vez e jamais atendido, Bruno - outro veado incurável e byronista, com jeito de Quixote, sempre errante-e-errado, sempre crente de que a próximo caso ia ser definitivamente avassalador e o cara ia oferecê-lo uma passagem para Paris quando, finalmente, desenvolveria o francês de bar atrofiado e arriscado quando só haviam aquelas sapatões conhecidas e umas transas esquecidas sem remorso algum; de A a Z, nomes e nomes, com seus apostos explicativos mentalmente confabulados e vezoutra, uma memória de corpo que toca no meio do peito como sino de Igreja de cidadezinha pequena, com suas duas torres barrocas, pintadas de azul-e-branco e aquela porta imensa, sabe-se-lá se para o paraíso ou para o inferno. Rodrigo parou, deixando Daniel saltitar alguns passos a sua frente, e colocou a linha do ombro paralela à calçada, virando a cabeça como foto para a revista de fofocas, fitando-me com a sobrancelha arqueada metrossexualmente depilada – e disso ele tinha horror, homens com uma sobrancelha só. Esperou que eu me aproximasse sem tirar os olhos do vidro do celular.

- Pensando nas antigas ou nos “recalls”? – olhou curioso para o celular, enfiando o braço no laço que o meu braço fazia.

- Nem um, nem outro... – sorri dando um beijo na bochecha morena dele, livre de pêlos e com o adendo de uma covinha.

- Quero um cigarro. Gudan, de preferência. Só sei fumar assim: mentolado e antes do almoço – apalpou-me os bolsos da calça jeans e, como não achou nada, deu um tapa barulhento no meu bumbum – compra para mim, gata. Com essa bunda, você podia ser bicha. Bem – e o tom de voz desafinou cambaleante sobre o advérbio - passiva...

Pensei que seria bom fumar de novo. Havia parado há algum tempo, pois se tornara um vício terrível, coisa constante das noites úteis dos dias inúteis da semana. Entramos no primeiro bar aberto, desviando de umas pessoas que saiam em correria para o próximo bar, dando voltas nas cadeiras colocadas até no começo da rua asfaltada, essa mania galicista dos mineiros que ficaram presos no século XIX, crentes de que Belo Horizonte um dia será Paris (e a Torre Eifel, naturalmente, seria o Pirulito da Praça Sete, para felicidade descontrolada das lésbicas e gays, quando, então, a parada seria ao som da Marselhesa, com uma camisinha multi-colorida encobrindo o Pirulito enrijessidíssimo, como uma marcha dos mineiros sobre a França - gerais). Daniel - que a esta altura, já havia bebido três garrafas de Smirnoff e já se encontrava, somente por vontade própria, levemente bêbado – requebrava a anca entre as mesas e cadeiras, fazendo questão de esbarrar a bunda minguada dentro da bermuda branca de bolsos largos, o que não realçava em nada o pouco e magro corpo. Rodrigo sussurrou no meu ouvido de que ele, o Dani, acabaria se dando muito mal, d’onde já se viu bicha ativa ralar bunda em todo mundo? E eu ri divertidamente, apoiando minha mão sobre o ombro largo dele, seriamente travestido numa camisa social de cuidadosos dois botões abertos. Daniel foi o primeiro a chegar ao balcão e como de praxe, deu um tapa estrondoso na bancada. Alguns homens, sentados numa mesa do logotipo Skol, olharam-no com certa raiva, mas ele passou inerente e terminou a cena com um apoiar de mãos no quadril que tanto desejava ter mais largo: certas noites e certas taras. Um cara magro do rosto marcado pelo sofrimento, caminhou, com letargia, da pia de ardósia onde se encontrava até a figura andrógina do Dani apoiada no balcão, nos seus raquíticos um-metro-e-cinqüenta-e-Deus-ajuda, jogou o pano de prato quase marrom sobre o ombro. Não perguntou o que ele desejava, mas não foi preciso, já que o Dani se lançou imperativo:

- Oh garçom – e a voz saiu incrível e hipocritamente máscula – me vê um ice e um maço de Gudan.

O homem não disse nada, mas o olhou com as íris pretas furiosas e impacientes. Dani se virou para nós dois, apoiando as costas e as duas mãos sobre o balcão, rindo com os dentes brancos. “Voilà”, ele disse, concluindo como se estivesse sendo filmado pela câmera da curiosidade de todo mundo no bar. Rodrigo e eu balançamos a cabeça de um lado para outro, sorrindo e ironizando a atuação chinfrim do aspirante a Monroe. Dani fez um “pssssiu” e apontou, discreto, com o queixo, algum lugar à minha direita. Rodrigo não ouviu o chamado e foi ao encontro do garçom, para receber o ice e o maço, e pedir-lhe as desculpas, de quebra comprando a simpatia com uma gorjeta gorda. Esperei algum tempo para só depois olhar para trás, como quem procura as horas num relógio de parede. Era uma mulher aparentemente comum. Trajava uma calça jeans que afinava na canela e deixava à mostra o sapato de bico fino e preto, sem grande altura nos saltos. Desenvolvi o olhar clínico primeiro pelos pés, apertando com os olhos da imaginação a canela grossa que a calça desengolia. Mais acima, uma panturrilha pouco desenhada, mas arqueada, não sabia se pela posição das pernas ou por um hábito de academia. Panturrilha bonita que se alargava nas coxas com uma desenvoltura feminina, fazendo seus morros ligeiros nos devidos lugares. Como ela estava sentada, não soube dizer nada da anca, embora parecesse larga, como minha avó diria “boa parideira”. Uma blusa nem larga nem frouxa que, embora denotasse uma leve ondulação da barriga à frente, oferecia ao sabor e saber dos olhos, um colo resguardado pelo decote, forte e marcante, com o deltóide levemente trabalhado, os pequenos ossinhos do ombro que faziam um relevo misterioso, dando idéias fantasiosas do cheiro desprendido, do gosto por ser descoberto. Rosto quase quadrado, com um queixo proeminente, com desejos internos de ser um pouco mais furado. Maçãs do rosto coradas por um blush rosa, cílios pintados com a delicadeza renascentista, o tom do batom vermelho molhado do último gole na cerveja, os cabelos claros, castanhos suaves como vício de loiros. Uma inocência em se sentar com as canelas cruzadas por baixo da cadeira, como uma criança no banco da escola, esperando a mãe buscar no final do horário. Inocência que desaparecia com os trejeitos de mulher, quando jogava os cabelos sobre os ombros ou retirava-os dali, movimentando o ar ao seu redor. Era bonita, como qualquer outra beleza urbana. Muitos a olhavam, talvez até algumas também a tivessem notado. Quando terminei a primeira viagem visual ao corpo dela, nada havia acontecido. Ela não havia despertado nada além de um comentário silencioso de “é bem bonita e não é para o meu bico”. Olhei para o Dani sem expressão correspondente, não entendendo o motivo do “psiu” tão acentuado. Ele repetiu o movimento com o queixo, apontando-o na direção dela novamente. Meus olhos arregalaram-se exclusivamente para ele e bati a mão no ar para baixo, três vezes, silabando “menos, menos”. Teimoso como o próprio, tampou um dos lados da boca com a mão espalmada e falou baixo, embora fosse fácil para qualquer um ouvir o que ele dizia:

- Não olha agora, mas está te olhando – e virou o corpo de volta para o balcão, dando outro tapa sonoro, para desconcerto de Rodrigo que, a esta hora, já havia arrancado uma simpatia do garçom.

Incomodada com o comportamento do Dani, busquei o celular no bolso, por pura falta de onde colocar as mãos. Abri o flip do celular e, por descuido, apertei a tecla de “câmera” e no visor apareceram os tênis brancos do Dani. Apontei a câmera para mim, colocando o dedo no botão de tirar a foto; levantei o rosto um pouco, ensaiei um sorriso de revista e coloquei o telefone a alguns centímetros acima de mim. Foto tirada. Tornei a olhar o visor, mas a câmera não havia me focalizado: apareceu uma parte do meu rosto, a argola do meu brinco na orelha direita e no grande vazio da foto, ela reapareceu, dessa vez olhando com afinco para câmera, como se a foto fosse dela e por ela. She’s suddenly beautiful, eu pensei na música, enquanto passava o dedo sobre o painel do celular, sobre o exato lugar onde ela havia saído. Como um lapso provocado pela beleza astral dela, acreditei que naquela fotografia, eu a havia prendido no meu celular. Senti as veias das mãos pulsarem um sangue descompassado, o que afrouxou a intensidade com que segurava o celular. Não consegui fechar o flip e fui, devagar, virando o corpo na direção da mesa, sem me importar com qualquer fácil suposição de que eu me virava exatamente para olhá-la. Não, ela não me olhava e só então eu consegui fechar o celular mecanicamente, batendo as duas partes uma na outra com uma intenção sonora. Com o barulho, ela despertou de uma conversa com alguém que parecia especialmente cansativo; ela levou uma das mãos à nuca, como se massageasse uma dor no ápice da coluna e me olhou, ouvindo o que o outro falava. Olhou branco, primeiro, como se eu não estivesse lá. Pensei em desvencilhar, mas a foto no celular pedia para que eu ficasse, que agora seria minha memória quem tiraria a foto dela (ficaria presa nessa também?). Apertei o celular contra a palma da minha mão. Ela olhou ainda mais e eu vislumbrei naquele rosto claro um leve apertar das pálpebras, enrugando a pele ao redor dos olhos, como interrogações de uma fala não-verbalizável. Hipnose por livre arbítrio, não soube abandonar os olhos castanhos que me fitavam incógnitos; permaneci porque sentia que ela iria, de alguma forma, me dizer alguma coisa inaudível, uma mensagem da alma no espelho dos olhos, ou talvez apenas porque aquele olhar era muito mais uma afronta do que um convite. Mas, ela só olhou e olhou muito. E eu só olhei e olhei mais. Ela deu uma risada que começou com um sorriso quase infantil. Ainda olhava nos meus olhos quando a gargalhada nasceu, mas voltou a atenção e o motivo do riso para a companhia cinza que lhe atrapalhava a órbita. Ela tocou as costas da mão do colega de mesa, como se valesse de uma cumplicidade pela risada. Neste exato momento, Rodrigo me pegou pelo braço e fomos andando enquanto ele abria o box do Gudan, lutava contra a dificuldade de retirar um cigarro e colocava um na boca e, em seguida, um outro na minha boca. Caminhei para fora do bar, com quase todos sentidos lá dentro, preso na mulher das canelas grossas e do sapato de bico-fino; levei comigo só o doce do cigarro preso nos lábios, que também se tornou uma memória dela. Rodrigo chamava a atenção do Dani, que fosse mais discreto, desse menos bandeira, já mataram viados a doidado nessa cidade, com essa onda de vamos-jogar-os-bebês-no-Arrudas irão jogar teu pouco corpo morto lá. Daniel riu como se a risada fosse a grande resposta e o marco do seu triunfo no monólogo chato do Rodrigo. Respondeu “continuo comendo mais que você, enrustido”. Já havíamos nos distanciado do bar, quando eu percebi que não havia fogo para acender os cigarros. Rodrigo disse que compraríamos um isqueiro no próximo bar, mas eu precisava voltar e a desculpa do fogo era essencialmente válida. Desvencilhei das tentativas dos dois de me bloquearem o retorno. Apressando os passos, entrei de novo no bar, lutando contra a enxurrada de corpos que se movimentavam na porta do lugar. O olhar foi rápido em achar a mesa, mas nela, só restaram um cinzeiro cheio, dois copos e latas vazias. Um sentimento desanimado de estupidez maciça me correu o corpo e as pernas foram menos concisas em alcançar o balcão. Os olhos não entendiam o desassossego do coração, mas sabiam que precisam procurá-la. A foto n’alma e a alma da foto: possibilidades do imaginário e da imaginação. Apenas os vestígios dos dois ficaram consolados na mesa amarela encostada na parede. Do cinzeiro negro, restavam algumas guimbas apagadas dos cigarros, mas especialmente uma, não amassada, ainda estava parcialmente acesa e, sem qualquer pudor, lancei os braços na direção da mesa e tomei a pequena brasa nos dedos; aproximei-a do rosto, analisando em minúcias a coloração do batom que ficou marcada no papel branco do cigarro, e toquei a ponta da chama do cigarro na ponta escura e fria do meu Gudan. Um trago, dois e apenas no terceiro, instantaneamente, ambas pontas se fizeram rubras e a fumaça mentolada invadiu minha boca e narinas, reacendendo também a memória imediata do momento em que ela havia aparecido. Meus olhos se apertaram com a fumaça que irritava os olhos e, eu já ia me dirigindo ao balcão para pedir fósforos quando uma voz feminina, mas grave, ecoou:

- Se queria fogo, era mais fácil pegar o isqueiro, não?

Girei sobre os calcanhares. Ela estava de pé, agora, à minha frente e foi aí, então, que eu pude notar-lhe a altura de poucos centímetros medíocres maior do que a minha; as ondulações da barriga alisaram-se numa cintura afinalada entre o busto e a anca de um contorno curvilíneo. Meus calcanhares ameaçaram desprender-se do chão, quase jogando meu corpo na direção dela, como uma pequena tontura, não se sabe se pela presença dela ou pelo efeitozinho do cigarro. Enchi os pulmões de um novo ar e recobrei a tônus muscular das pernas, forçando os dedos do pé contra a sandália. Ela estava com os dentes à mostra quando tomou meu cigarro dos meus lábios: “esse cigarro, por direito, é meu”; e olhando para a guimba marcada do próprio batom, ela concluiu com a sentença mordida entre os dentes: “esse aí, então, é teu”. A dança dos braços dela à minha frente, em momento algum, me tocou, até mesmo quando, com as pontas dos dedos curtos, ela pegou o corpo do cigarro. Apenas exalou o perfume adocicado dos seus poros ao meu redor; aroma do Gudan e aquela fragrância dela fundiram-se, miraculosamente, como um par que se re-encontra numa dança e, junto ao foto do celular, passavam a ser os vestígios dela no meu sereno ser. Ela inclinou o corpo à esquerda, desviando a atenção do meu corpo, como se ele fosse um obstáculo opaco, e olhou para a mesa, dando a impressão de que conferia alguma coisa. Tomando da boca o cigarro e colocando-o entre os dedos, soprou a fumaça obediente pela boca, que desenhou uma faixa de gás dos lábios dela até o centro do meu peito. Nem ela e muito menos eu desfizemos o trajeto da fumaça, mas um terceiro sujeito cruzou o vazio entre nós duas e diluiu a retilínea nuvem cinza. Com o movimento do outro, acabei desconcentrando-me dela e fiquei alguns instantes com o olhar pausado sobra a mancha de batom vermelho no cigarro preso entre as minhas mãos. Sabia que ela ainda me olhava e esperava. Tragou algumas vezes o meu-cigarro-dela, vigiando os movimentos das minhas mãos em prol do cigarro-dela-meu. O tempo e o vento esforçavam-se para apagar a brasa da ponta do cigarro, mas, com delicadeza, eu protegia aquela ponta rubra entre a palma da minha mão e o meu corpo. Com a leveza do pouso de uma borboleta, peguei, com as pontas dos dedos, a parte manchada de batom vermelho e levei-a até meus lábios, aspirando com intensidade até que a brasa alcançou o círculo desenhado da logomarca do cigarro, extremamente próximo ao meu resto, tanto que podia sentir o calor da queima nos arredores da minha boca. Ela observou sem pausa e sem pressa e sorriu quando terminou o cigarro-momento. Durante todo tempo, eu também olhava para ela, mas não era um ato consciente de si próprio, era um agir ventrilocado pela presença dela, um efeito dela em mim. Sorri de volta, pela primeira vez, mostrando a guimba do cigarro agora completamente absorvida. Com o cigarro nos lábios, ela espremeu os olhos: sorriso ocular. Uma de suas mãos abandonou as laterais do corpo e apontou a mesa amarela logo atrás de mim. Virei para a mesa e vislumbrei o cinzeiro cheio de cinzas e outros cigarros. Compreendi que ela me sugeria que colocasse o meu junto aos demais e que, por conseqüência, havia entendido que eu a mostrara a ponta do meu cigarro para indicar que havia terminado. O sabor do batom invadira meus lábios e, embora não fosse agradável, já era íntimo da minha boca. De costas para ela, enterrei a ponta do cigarro no cinzeiro cheio de cinzas. Retirava minha mão, quando percebi que o isqueiro dela estava quase escondido atrás do próprio cinzeiro; como era fino, não poderia percebê-lo de longe, mas próxima, eu podia vê-lo repousar paciente atrás do muro negro do cinzeiro. Parei o retorno da mão e avancei-a mais uma vez em direção a mesa e tomei o isqueiro entre os dedos. Repentinamente, Daniel e Rodrigo apareceram reclamando da minha demora, perguntando se eu havia mandado fazer fogo... e ela não estava mais lá. Na massa de corpos que avolumavam o interior do bar, eu a havia perdido e, embora tenha tentado sair e procurá-la, os meninos me impediram e repetiam que precisávamos ir embora, já estávamos atrasados. Tentei, em vão, me justificar e dizer que precisava encontrá-la, devolver-lhe o isqueiro, o cigarro, o sabor, a fragrância, a foto. Mas, a verdade, é que jamais entregaria nada a ela. O sabor do batom permeou meu paladar a tarde seguinte inteira, o isqueiro acendeu muitos outros cigarros pela noite, a fragrância chocou-se com as demais fragrâncias durante a madrugada, descartando-as; e a foto ficou guardada no celular – e na alma - para sempre.

Wednesday, November 14, 2007

Causa cognoscitur ab effectu



- Há algum tempo, não sei quando, eu lhe dizia que essa nossa vontade de viver é uma vontade de viver dos outros. Por nós mesmo, ficaríamos trancafiados nos próprios quartos, ouvindo os mesmos CDs, bebendo a mesma água, ligando para as mesmas pessoas, criando raízes e teias sob o lençol. Ninguém quer viver muito, quer viver apenas o necessário – e necessários são os nossos mitos; ninguém se permite não-viver esta vida e con-viver com esta outra vontade que, nesses últimos tempos, ficou clandestina nos nossos afazeres domesticados. Acho que as pessoas crêem que viver é tomar posse de uma realidade, quando eu insisto em entender que viver, pelo contrário, é ser possuído por uma fantasia sincera. Mas, o mundo é muito exigente e até a vontade de viver ele nos imputa. Nós sabemos, você sabe: todos morrem cedo para os sonhos e tarde para as ilusões. Mas, só existe este disparate porque a vontade de viver não é nossa, é do outro. Que outro? Sei lá, o outro de Lacan, o outro do outro, jamais nosso. Deles. É, de mais eles: deles. Mas viver é sobressaltar-se, alguém disse isso. Viver é um murro na boca do estômago, toma a vida nas mãos e fecha a porta de casa com três chaves antes de sair. Viver é perigoso, o Rosa disse. Acho que viver não é nada disso. Ainda não estamos vivendo o nosso desejo (nem estamos desejando a nossa vida). Enquanto a “nossa” vida for a vida do outro, ainda estaremos vegetando, ouvindo a mesma música, bebendo a mesma água, reduzindo-se ao nada. Ah, eu já estava terminando o sexto cigarro quando você ligou e nós sabemos como eu fico depois do sexto cigarro. É, eu fico triste e blasé. Mas, tão bonito isso de você ligar agora. O sétimo cigarro está preso entre os dedos da outra mão que não segura o telefone. Posso acender? Você me deixa viver o meu sétimo cigarro?(...)Você sempre liga nessas horas incertas e eu fico susceptível a sua voz. É, susceptível e não volúvel, não comece com a palhaçada notívaga. Não, não venha aqui agora. Eu teria de levantar, tomar banho, passar aquele perfume, maneirar nos cigarros, abrir o vinho, parecer intocável. Hoje só quero que você me escute, que viva a voz, porque eu vivo a sua. Aquela tonturinha do cigarro começou, aproveita. Pára, não quero notícias dela. Onde? Pouco me importa se ela falou de mim. Falou para, por ou de mim. Nada preposicionado com ela. Claro que ela ainda liga. Mais que você, infelizmente. Se você ligasse mais... até isso não importa. É bom que não ligue sempre, porque quando liga é a única maneira que tenho de lhe oferecer minha solidão e, em troca, receber a sua. Não ficamos consolados, mas ficamos menos inconformados. Com você aqui, neste sofá com várias marquinhas dos nossos cigarros caídos no estofado, ficamos tão poeticamente tresloucados. Não, não, parei com o pó, odeio aquilo de ficar com o nariz escorrendo, me lembra demais aquelas crianças resfriadas, com uma merendeira à tira colo, os olhos fundos como poço. Lúcia não nos entende, acha que só rola tesão na cama e umas conexões baratas de aulinhas de filosofia que a gente dividiu na faculdade. Lúcia não nos entende e pronto. Oi? Sempre quando ela falava isso, eu a jogava contra o armário da cozinha ou a colocava de pernas abertas sobre a bancada e ia lentamente retirando a calcinha, oferecia meu dedo que ela chupava com vigor, molhando desde a base até a ponta e rodopiava em espiral dentro dela, sussurrando poeminhas em espanhol e inglês. Ela não entendia, mas gostava. E gozava. Sabemos que ela gosta de não entender. Meu dedo é o único entendimento para ela. É, é engraçado. A ignorância é uma benção. Por isso mesmo, pouco me importa se ela falou para-por-de mim: fala por fala, ela quer mesmo é sustentar uma conversa, como esta, por mais de cinco minutos, sem reclamar do cigarro ou sem ser vulgar. É... o cigarro queimou sozinho no cinzeiro. O seu também? Não sabia que você também estava fumando de novo. Mentolado? É bom, prefiro os mentolados. Nada light, não. A tonturinha me faz bem, não faz a você também não? É, eu sei que faz. Aposto que agora mesmo você está com a barra da calça dobrada em três volumes, os pés apoiados no braço do seu sofá intacto e sem marcas de cigarro, os olhos vigiando as sombras de quem passa pela rua e corta o fluxo luminoso dos faróis e postes lá de fora. Luz apagada, claro, ou talvez apenas aquele abajour amarelado do canto da sua sala, com um cinzeiro cheio de guimbas marcadas de batom de tanto tempo atrás, desleixe seu ou saudosismo seu, vá saber. Eu sei? Eu sabia que iria acertar. Como não acertar? Incerteiro, se lembra? Saudade? Sabe de uma coisa da qual tenho saudade? Quando você, depois da transa, ficava sem camisa e deitava-se de bruços sobre os meus lençóis, impregnando-os com seu suor, e eu ficava horas espremendo pequenos cravos, passando as pontas das minhas unhas nas suas costas em tatuagens cutâneas em espiral e tribais. Logo logo sua pele se eriçava em pêlos, nas costas da lombar até a nuca e, então, eu beijava a depressão que sua coluna desenhava no meio delas, até roçar meu nariz no princípio dos seus cabelos, quando eu então abria ligeiramente a boca e mordia com leveza o contorno da sua nuca descoberta. Sentava sobre o seu corpo, colocando-o aprisionado entre minhas coxas, tocando as pontas dos meus seios descobertos nas suas costas desprevenidas e recomeçando o desenhar cutâneo; escorregava as minhas mãos dos seus ombros até os seus dedos e, pelo avesso das palmas das mãos, emaranhava meus dedos nos seus, apertando as costas da sua mão que, como o resto do meu corpo, abraçava o resto do seu corpo. E ficávamos assim: eu lhe contava alguma história, falando um pouco rouca no seu ouvido ou roubava um beijo no lóbulo da sua orelha, apenas para recomeçar a brincadeira de arrepios visíveis na sua pele. Não precisávamos de sexo nem de senso, era apenas bom ficar ali, por que, exatamente ali, sobre você, eu sentia que poderia lhe proteger, como uma carapaça, um escudo protetor e não importava o quanto você se debatesse, eu estaria ali, protegendo, guardando, aguardando. Me conta, aonde chegamos? A uma ligação no começo da madrugada? Quero voltar para aquela cama, quero lavar os lençóis e quero que você os suje de você de novo. Não, não precisa chorar também. Percebe que eu falo isso com uma sombra de sorriso nos lábios? Eu sei que você não pode me ver, mas pode me sentir. Sente isso? Não há mais espaço para lágrimas entre a gente. Não, eu não sou insensível, só não quero chorar e não quero lhe fazer chorar, exatamente porque você não vai estar aqui para que eu lhe abrace e lhe proteja e diga que está tudo bem, porque não está, eu não estou lhe abraçando, você não está dentro da minha proteção. Vem, vamos desligar. Não, isso não vai passar, meu bem, isso não é passado. Eu sei que foi você quem ligou. Ainda estamos no meio da semana, já fumamos a cota de cigarros do feriado, sexta-feira vem vindo, já já é amanhã. Vem, vem... eu te coloco na cama. Você desliga primeiro.


Friday, November 09, 2007

Star's dust


“Depois foi cinza
Nódoa envenenada e mineral
Poeira de estrelas”

(Geraldo Eduardo Carneiro)
"Same old song
Just a drop of water in an endless sea
All we do
Crumbles to the ground,
Though we refuse to see"
(Scorpions)

Dani, eu estava agora há pouco me lembrando de nosso tempo de criança, de como corríamos com energia infindável pelos corredores brancos da escola, de como nos divertíamos com a insipiente ironia que nos era permitido ter naquela época, de como jogávamos vôlei na quadra do colégio de tardezinha, o sol fraco se pondo atrás da igrejinha da serra e o alaranjado colorindo a bola que pairava no ar. Hoje eu fumo, você é médica. Como seria diferente? Eu desconstruo, você constrói. E sempre nos demos tão bem. Eu tenho essa inconstância, esse leve desespero que embala meus dias; tenho também esse pensamento cancerígeno que só alastrou nos últimos anos. Uma vez Bárbara usou uma metáfora piegas, mas que me tocou em cheio “vi você renascer das cinzas, como fênix”. Bonito até. Mas, não mais bonito do que cuidar das pessoas e conseguir curá-las, como você faz. Terapia desse seu sorriso simpático e largo. Tenho saudade da sua saúde emocional, dessa leveza sentimental que você carrega no seu ascendente e principalmente da naturalidade com que você convertia meus problemas em piadas das quais eu conseguia rir, ainda que fosse uma risada pouca no intervalo do recreio.

Recordei, outro dia, da nossa aposta de quem transaria primeiro. Dinheiro fácil que você me levou. Pior de tudo, além do prejuízo financeiro, foi não ter entendido, quando você tentou me dizer, que havia transado com o “...” e me pedia ajuda psicológica para ir dormir sem achar que estava grávida. Ainda dou boas gargalhadas quando lembro das suas bochechas coradas logo que entendi o que tanto se esforçava para dizer. Espero que esteja “fazendo amor” (eu iria falar trepar, mas esse vocabulário o tempo me ensinou e você não conseguiria o ouvir) mais e melhor agora, explorando posições e lugares e desejo mais é que ele te faça gozar. Só assim para você se livrar do seu pudor mineiro.

O assunto que aqui entrará me fez postergar a conclusão desta carta. Dani, eu sei que você me viu quase morta. Jamais esqueço daquele dia em que lhe contei tudo, da consulta no dia anterior, da lista infinita de remédios, das advertências dos médicos, do desespero da minha família. Eu não olhava para os seus olhos, mas encostada na porta da sala, eu sabia que você também chorava com os cantos brancos dos olhos avermelhados, mordendo a mão, sem dizer nada, apenas olhando para o chão. Naquele dia, você me viu. Naqueles minutos em que você ficou parada, silenciosa, sem ação, você me viu e me sentiu. E chorou dolorido, como eu chorei. O momento ainda está em mim, como você ainda está em mim, embora haja essa distância maior do que os quilômetros. Lamento reconhecer que a doença não findou. O corpo deu vacilos, rodopiou na encruzilhada da vida, soergueu-se no abismo da cova, mas continuou até aqui, sobrevivendo como pode. Eu finjo que esqueço e assim também fazem a maioria das pessoas e, ao nosso favor, advoga apenas o meu sumiço – porque foi essa minha alternativa a dor. Já não sei mais quem sou, se sou a enferma ou a sobrevivente de mim mesma, se sou o que deveria ter sido ou o que nunca fui, ou talvez nada disso. Os anos estão passando para você. Estará se formando em breve, estetoscópio no peito, consultório cheio, dinheiro no bolso, três filhos, uma fazenda, um marido insaciável. Capa de revista, memória dos meus sonhos. Eu, cá dentro, ainda estou à espera de mim. Meu carma e meu coma.

Acabei de acender outro cigarro e você deve estar achando isso tudo muito poético. Sei que você gosta quando eu escrevo, pois você sabe que eu sinto e transbordo, você vê qualquer coisa em mim meio nostálgica – talvez seja culpa dos óculos e o jeito de falar pausado entre uma retórica e um aforismo. Você ainda tem aquela fita cassete que gravei para você, falando e fazendo sons eletrônicos com o teclado? Não, acho que não tem mais. Essas reminiscências pré-adolescentes devem ter sido encaixotadas e jogadas fora. Outras cartas e presentes vieram com o tempo e, inevitavelmente, velharias precisam sair para que a novidade entre. Creio que fez bem. É sua maneira de andar em frente e eu a admiro, ainda que eu faça parte do que fica para trás. Sobre meu cigarro, não se preocupe, doutora. Como todas as coisas (e receio fazer o adendo: e também pessoas), eventualmente, eu irei cansar de fumar, adotarei um outro vício, talvez volte para o alucinante mundo das academias e a saúde física agradecerá. Quem sabe? Sempre retorno ao ponto em que deixei algo para trás, certa de que encontrarei uma pista para onde eu fui. Quem sabe eu me encontrarei? Por enquanto: outro trago no cigarro. Não, por favor, não repare no meu jeito paradoxal de pensar as coisas. Já lhe disse que minha figura de linguagem predileta é o paradoxo. A vida imita a arte, fato. Com facilidade assombrosa, caminho pelo invisível imediato que une duas pontas de uma mesma realidade, de um mesmo universo. Evito sempre o trajeto mais óbvio-linear-concreto-inóspito pelo qual as pessoas sabem passar de um extremo ao outro, com a lucidez do drama urbano. O meu atalho abrupto contra a correnteza sempre me coube muito bem: minha pedagogia de avessos.

Não datei a carta, posto que sei que ela nunca irá chegar ou ser lida; será enterrada nas mesma lápide de alguns sonhos meus. Escrevo a você. Escrevo porque é inexorável. E não escrevo a mulher decidida e distante a qual você se transformou (ou sempre foi e eu me recusei a ver), mas me dirigo a menina de nariz grande que roubou meu relógio na quinta-série e o ofereceu a minha oposta (e não opositora) inimiga Letícia – atitude, aliás, de incrível sensibilidade sua. Creio que Lê foi meu primeiro “caso” (aqui não cabe a palavra amor, porque amá-la seria muito domesticável). Back then, eu costumava ouvir Losing my religion pensando naquele rosto moreno do nariz pequenino, na voz peculiar com a qual ela falava e ironizava meu jeito lunático de falar dos clips da Mtv. Letícia me desconcertava e, exatamente por isso, me prendia. Lembra-se de que eu e ela costumávamos correr, primeiro, uma atrás da outra e, depois, uma da outra? Naquele tempo eu não entendia o que me impelia a fugir e ao mesmo tempo estar perto. Hoje, com a vivência dos romances frustrados e das revelações sexuais, sei dizer que aquilo tudo era um turbilhão de sentimentos irritados com a própria profundidade. Com um sorriso saudosista nos lábios, ainda sinto o frio na barriga quando ela me olhava, aqueles olhos grandes atentos a tudo, espertos demais e sedutores demais para uma pré-adolescente em paranóia de descobrir o recém-inventado mundo “grande”. Jamais gostaria de uma mulher como gostei de Letícia. Cheguei a reencontrá-la nessas minhas andanças errantes pelos cursinhos belorizontinos. Bonita como antes, fiel à imagem que criei. Ela não soube me cumprimentar – como sempre -, embora me olhasse da mesma maneira íntima como sempre olhou: jeito de me tocar que carreguei na memória junto com o sabor das balas de maçã verde Lilith no intervalo das aulas. Sempre alimentei uma saudade de Letícia, até quando ela estava presente, sentada á minha frente com os cabelos cacheados esparramados na minha carteira. Pena ter perdido a carta a qual ela me mandou naqueles meses em que passei debilitada (seria bom relê-la agora, boas observações do que eu fui ou deveria ter sido). Talvez nela também tenha doído essa minha partida – que aqui toma um cunho mais de cisão do que de ida. Outra ocasião, encontrei com ela no ônibus. Letícia trocou de poltronas quatro vezes antes de se sentar á minha frente, jogar a mala pesada no bagageiro e me cumprimentar com pressa, quase gritando meu nome. Passamos a viagem espionando as conversas e os telefonemas da outra e não nos despedimos quando o ônibus chegou ao destino. Engraçado isso de relembrar: é como se redescobrir e perceber o tempo dentro do que chamamos de “eu”, um relógio incansável que nos permite sentir saudade, criar vínculos com o etéreo, acreditar que somos e existimos apenas porque há um resto de vida chamado lembrança. Talvez seja isto uma das poucas coisas que aprendi com o pêndulo do dia-a-dia, a única coisa que realmente posso lhe dar: existir e deixar existir, o restante do nada. A razão a gente encontra quando perde o controle. Paradoxo novamente.

Descobri que não sei de qual signo sou. Durante quase vinte anos, acreditei que fosse de Aquário e o simulacro da minha solidão parecia astrologicamente justificável. Mas, recentemente, uma estrela – ou qualquer outra coisa astral e solar – discutiu com as constelações e me roubou de Aquário, atirando-me à realidade pisciana. Será? Talvez realmente caiba a mim reunir as tristezas dos homens e envia-las a esse ser maior de vários nomes e poucas aberturas. Pretensioso da parte Dele acreditar que eu seria capaz de concluir a maior de suas tarefas e estúpido me dar o dom da compreensão, posto que nem entendo a mim mesma. Vá saber. Apenas sei que preciso me encontrar e justamente por isso lhe escrevo. Você me encontrou e me perdeu, assim como eu mesma me encontrei e me perdi. Estou de volta ao sem volta de mim, às pegadas que deixei, à poeira que restou dos cometas das minhas ilusões. Já sinto saudades de você, Dani. Fique com Deus e bem.
"Vou sair pra ver o céu
Vou me perder entre as estrelas
Ver daonde nasce o sol
Como se guiam os cometas pelo espaço
E os meus passos, nunca mais serão iguais
Se for mais veloz que a luz, então escapo da tristeza
Deixo toda a dor pra trás,
perdida num planeta abandonado no espaço
E volto sem olhar pra trás"
(Busca Vida - Os Paralamas do Sucesso)

Dados sobre as fotos: "Reflexos", por Dário M.F. Santos; site Olhares.