Wednesday, April 25, 2007

Soluços avulsos: palavras cruzadas

Queria, de novo, escrever coisas bonitas. Palavras-poemas, frases eternas e belas que, acima de tudo, me tocassem ou tocassem a quem as lesse. Aproximassem de mim, sutis, soprando uma melodia qualquer em lá menor, ao fundo de um ambiente em tons azuis em degrade. Ou, quem sabe, como diria Caio, esmurrassem a boca do meu estômago e me permitissem vomitar todo meu quase-sentimento guardado e mofado para hora nenhuma.

Ando com um gosto estranho na boca: amargo, seco, insípido. Verdade andei fumando mais do que estava acostumada, na pura e infantil ânsia de me achar suficientemente madura, com o canudo branco enfiado entre meus dedos indicador e médio. Ou quem sabe, para no meio daquela fumaça, permitir que uma ou duas lágrimas percorressem o triste caminho dos meus olhos até o queixo. Seja lá qual o motivo, longas baforadas cinzas foram perdidas entre uma e quatro da madrugada, entre copos de Coca-cola light e programas de TV a cabo. O gosto permanece indefinidamente e só agradeço a ele por ficar, pois a este mesmo amargo gosto deve-se essa vontade nova de escrever.

Escrever pra falar que eu não entendo. Que já cansei de tentar entender tudo que acontece(u), por quê acontece, como acontece. Estar ciente de que existe o acaso é fácil, chega a ser didático; aceitá-lo é bem diferente. Esse gosto que fica... que não exala, não destila... a sensação de deixar a festa antes do fim, quando tudo indicava pra ficar: os olhares, as bocas, os toques intencionados. Ter me levantado e ido embora, com as mãos guardadas nos bolsos, o cabelo que se rebelava num vento frio. Erguer a cabeça, tão certa disso, com os olhos que cintilavam uma vontade que chegava até a ser bonita: dentro e fora. Agora, é só amargo e seco. Voltar não é mais opção, a porta que se fecha do lado de dentro. Do lado de fora, aqui, ficou tão distante e frio e pálido e ausente e melancólico e quase febril, que já esqueci porque mesmo tinha ido embora? É quando se regurgita o gosto amargo pra nunca mais se extirpá-lo. Ali, completamente viva entre o querer ir e querer ficar, tão somente permaneço. Alguns breves segundos e desejo alucinantemente que alguém perceba a partida: olhe ao seu redor, procure, chame, chore, beba, ria-se e procure mais e mais; procure nas pessoas, nas coisas, nos perfumes, nos lábios, nos gostos. Sem jamais achar. Breves segundos e a vontade se convulsiona num choro fino, silencioso, no sopro do vento que corta a rua.

Friday, April 06, 2007

Você sabe o que eu quero dizer/ não tá escrito nos outdoors/ por mais que a gente grite/ o silêncio é sempre maior"

Aqui
Eu nunca disse que iria ser
A pessoa certa pra você
Mas sou eu quem te adora
Se fico um tempo sem te procurar
É pra saudade nos aproximar
E eu já não vejo a hora
Eu não consigo esconder
Certo ou errado, eu quero ter você
Ei, você sabe que eu não sei jogar
Não é meu dom representar
Não dá pra disfarçar
Eu tento aparentar frieza mas não dá
É como uma represa pronta pra jorrar
Querendo iluminar
A estrada, a casa, o quarto onde você está
Não dá pra ocultar
Algo preso quer sair do meu olhar
Atravessar montanhas e te alcançar
Tocar o seu olhar
Te fazer me enxergar e se enxergar em mim
Aqui
Agora que você parece não ligar
Que já não pensa e já não quer pensar
Dizendo que não sente nada
Estou lembrando menos de você
Falta pouco pra me convencer
Que sou a pessoa errada
Eu não consigo esconder...

(Ana Carolina, AQUI)