Saturday, August 26, 2006

Nada pra mim




Olhei no relógio do canto direito inferior do meu computador quase obsoleto. 23:25h. Como um ato que não pede explicação, conferi o mesmo horário no meu relógio digital no punho. Religiosamente no mesmo horário. Passei a mãos pelos cabelos presos com um prendedor metálico prateado, reajeitei a armação dos óculos. O celular completamente imóvel. E é assim que você me coloca no mesmo lugar.

Perdi meu tempo há muito tempo. Quando? Não sei mais. Sinto um vazio estranho num espaço que não me pertence. Vou voltar, mas é na volta que as amarguras da ida latejam dolorosamente mais evidentes. Queria não precisar, queria não ter a necessidade de. Sempre preciso; nada tenho. Só a possibilidade do meu amanhã.

É. Você não apareceu e essa vai ser só mais uma noite, entre eu, meu travesseiro e o rádio ligado até de manhã.

Se eu acordar durante a madrugada, que meus pensamentos não despertem. Costumo passar alguns minutos - há dias em que eles se transformam em horas - deitada, imóvel, apenas sob o controle da minha respiração. Penso em você, é óbvio. Penso nos seus sussurros, na sua voz quase rouca que me acordava de manhã. O cheiro dos seus cabelos, as curvas do seu corpo. Num mar de nostalgia, eu me pego embriagada de você. Aí, eu olho o relógio (de novo) e vejo que mal cinco minutos passaram e você ainda em mim. Queria que você precisasse mais de mim. Queria poder ir embora, jogar as suas fotos fora, deletar seus telefones da minha agenda eletrônica. Queria ir embora para você me querer mais. Se hoje eu lhe vejo e fingo (espero que bem) que não se passa de situação comum, é porque quero que você deseje. Não que eu me renda aos jogos, mas é que fica doloroso entregar os dados na sua mão.

Reviro os lençóis e os meus dois grandes travesseiros. Sinto um calor diferente que aquece e umidece meu corpo sob o lençol. Eu saio da cama, sento à frente do computador e espero não-sei-o-quê. Penso em rendição. Tomo um café esquecido na garrafa térmica vermelha. Amargo, ácidos, mas assim mesmo o tomo. Pergunto-me se preciso aprender a aceitar sua ausência. Aí então é que vejo que sempre estive adaptada a ela. Não sei se dói saber mais da minha consciência ou da sua indiferença.